O ministro da Previdência Social, Wolney Queiroz, afirmou na sexta-feira (11) que o “Estado brasileiro falhou” na condução do caso das fraudes nos descontos associativos aplicados a aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
“O Estado brasileiro falhou porque nunca se fez o batimento daquelas listas de aposentados que autorizavam serem descontados em folha, que as associações remetiam para o INSS. O INSS nunca, na história, nessas décadas, conferiu isso. Tomava como verdade os dados das associações”, disse.
A declaração foi dada durante sabatina no 20º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, em São Paulo (SP). Segundo Queiroz, os descontos associativos irregulares cresceram de forma significativa entre 2023 e 2024 porque servidores do próprio INSS teriam impedido que os alertas chegassem ao Ministério da Previdência Social.
“Os alarmes foram desligados. Os pontos de atenção que podiam dar o alarme para o ministério foram propositalmente neutralizados […] por pessoas. Eu não vou dizer quem são essas pessoas, de dentro do INSS”, afirmou. Embora tenha reconhecido a falha do Estado, o ministro afirmou na entrevista que identificar a fraude foi um processo complexo.
“As primeiras denúncias datam de 2019, 2020. A Polícia Federal investigou, o Ministério Público Federal também, não conseguiram achar. Não eram coisas simples de achar. A própria CGU passou um ano e meio para poder levantar todos esses dados e deflagrar a operação ‘Sem Desconto’.”
Queiroz afirmou estar promovendo a reestruturação da ouvidoria do ministério e fortalecendo o setor de inteligência da pasta. Além disso, trabalha em parceria com o INSS para garantir o ressarcimento dos aposentados prejudicados pela fraude.
Ao ser questionado se o fim do desconto em folha seria uma solução para evitar novas fraudes, o ministro respondeu: “Tenho muita dificuldade em defender a volta do desconto em folha, mas também tenho muita dificuldade em condenar todas as associações a deixarem de existir.”
Segundo ele, eliminar esse tipo de pagamento comprometeria financeiramente diversas entidades legítimas, especialmente as vinculadas a trabalhadores rurais. “Por trás disso, tem uma disputa ideológica. Existe um desejo claro da centro-direita de matar os sindicatos. Eles tentaram com a reforma sindical e os sindicatos encontraram uma maneira de sobreviver através dos descontos associativos em folha. Se esses descontos acabam, atinge-se diretamente os sindicatos de centro-esquerda.” G1